Para o Ano Novo
que se inicia
que se inicia
neste Advento
Santo Ano Novo!
O Natal já advém.
Seja cada coração
Santa gruta de Belém.
Santo Ano Novo
Para a maior glória a Deus,
Tempo de vida eterna,
(Façamo-lo)
Caminho para ir ao Céu.
Santo Ano Novo
De dias de chuva ou sol,
Aconchego ou noite fria,
Dissabores e confortos,
Dissabores e confortos,
Que nada nos seja estorvo
.
Corações postos no Alto,
Os pés calcando os campos.
Ao som de cítaras e harpas,
E de violas e banjos,
Cantemos hosanas com os anjos
Até que se perca a voz,
Exultantes de alegria
Ao saber que a cada dia
O Salvador vem a nós!
Ano Novo é tomar a estrada
Sem nunca andar sozinho
Sabendo ler os sinais
Que Deus pinta em Sua lida
Na tela do universo
feito a partir do nada.
Este riacho que canta,
Uma ave que chilreia,
Estrela-do-mar na areia,
Os astros no infinito,
O vento que sopra forte
Ou sussurra em leve brisa,
O mar bravio ou em calma.
Um guaipeca dormindo
Na nossa porta de entrada,
O choro do pequenino,
A dor de quem agoniza,
O corpo fraco que morre,
A esperança que nos socorre,
O grito de nossa alma
Que anela por sua fonte
No anseio de ser nutrida,
São setas, trilhas, pontes...
O mundo da criação,
Sinfonia de beleza
E, por permissão benfazeja,
Da Divina Perfeição,
Formidável chiaroscuro.
Essa escritura ilustrada
a ser bem interpretada
(Consultem os Testamentos
E a voz da Santa Igreja!)
É farol ao Porto Seguro...
...O berço do Senhor da Vida!
Haverá tesouros para entregar-Lhe
Ao fim da nossa jornada?
Ano Novo é espada,
Bisturi, lâmina afiada
- choro e sangue de inocentes -
Dos soldados de Herodes,
O falso adorador,
Mentiroso e homicida
Que finge prezar a Vida.
Antanho invadiam casas,
Hoje violam os ventres.
Ano Novo é caminhada,
É fuga na madrugada,
É evasão em segredo,
Em silêncio, nem um ai!
Exílio em terras alheias.
Infância,
Na casa longe de casa.
Confiar. Vencer o medo.
Pátria aqui é sombra, arremedo.
Aqui somos estrangeiros,
Forasteiros, peregrinos.
Outra é a nossa Pátria
Outro é nosso destino.
Nossa Casa é a do Pai.
Ano Novo é tempo santo.
Estar pra Deus sempre pronto
É amorosa obrigação
Devida em cada momento.
Ano Novo é louvação,
É preceito e romaria,
É perda, angústia, reencontro.
É ocupar-se com o que é de Deus
E guardar no coração
O que escapa ao entendimento,
Como fazia Maria.
Ano Novo é suor, cansaço,
Trabalho de carpintaria
E ganho em moeda parca.
É fazer obra divina
No anonimato, surdina,
Sem vanglória e logomarca.
(Quanto não valeria
Uma mesa autografada
Por São José, por Jesus;
Um bordado em ponto cruz
Das mãos da Virgem Maria?)
Ano Novo é Evangelho
Ano Novo é precursão,
É endireitar os caminhos,
Arrependimento, conversão,
Reparação, penitência,
Batismo no rio Jordão...
Ano Novo é recolhimento,
Deserto, ascese, oração.
Vigiar, ficar desperto.
O sempre se faz agora!
E aquele que é o Torto
Se apresenta como o certo.
Pelas falsas riquezas do mundo,
-- Que belo cheque-sem-fundo!--
Ou por um pedaço de pão,
Há quem troque o Redentor
E jogue fora a Salvação.
E do Senhor não se sabe a hora.
Ano Novo é chamado,
É humilde aprendizado.
É festa, bodas, intercessão,
É banquete aos convidados.
Vistamos roupa de gala,
Eis que o Cordeiro se imola
E nós dá seu Corpo e Sangue
E água do Seu costado
Tanto é o amor à Sua Esposa!
Feliz Ano Novo
De parábolas e sermões,
Chicotes e expulsões,
Ternura e acolhimento,
Curas, conversões,
Fé, incredulidade,
Indiferença, discórdia,
Covardias e traições,
Amor e misericórdia.
Bom trigo e, no meio, joio,
Terra boa e pedregulho,
Sementes, pássaros e abrolhos.
Quem tem ouvidos, entenda:
A paz de Cristo é contenda,
É combate, divisão.
Não se espante o cristão
Desse mundo de agruras,
Cobiça, dor, amarguras,
Tristezas e injustiças.
Do lavrador a missão
De colono, desbravador,
Não é encontrar a lavoura
Já plantada, bem carpida,
E a safra já colhida
E recolhida ao celeiro,
'que essa não é a sua vida.
Feliz Ano Novo
De hosanas, calvário, paixão,
Morte e ressurreição,
'que não há felicidade sem dor
E não há glória sem cruz...
Felicidade mesminha
É só a felicidade eterna.
Feliz se é aqui na terra
Quando pela santidade
Antecipa-se nesta vida
O contentamento infinito
Do gozo da casa paterna.
Pois a escada da Cruz
Começou lá com Adão.
Escada que só descia,
E sinal de maldição.
Do infinito Amor do Amor
E, quem dizer poderia,
Com o amoroso Sim
Daquela santa guria
Filha de Ana e Joaquim,
Fez-se carne o Verbo, Jesus,
Que com amoroso Sim
Completou o Sim de Maria:
Da escada que só descia
Inverteu a direção.
Do opróbrio fez Salvação.
E a Cruz que Ele viveu,
O Leito em que Ele morreu,
Por sua Ressurreição
Agora é escada pro Céu,
Cidade Santa de Deus.
Santo Ano Novo!
Santo Natal!