domingo, 30 de novembro de 2014

Para o Ano Novo que se inicia

Para o Ano Novo
que se inicia
neste Advento

Santo Ano Novo!
O Natal já advém. 
Seja cada coração 
Santa gruta de Belém.

Santo Ano Novo 
Para a maior glória a Deus, 
Tempo de vida eterna, 
(Façamo-lo) 
Caminho para ir ao Céu.
Santo Ano Novo 
De dias de chuva ou sol, 
Aconchego ou noite fria,
Dissabores e confortos,
Que nada nos seja estorvo
.
Corações postos no Alto,
Os pés calcando os campos.
Ao som de cítaras e harpas, 
E de violas e banjos, 
Cantemos hosanas com os anjos 
Até que se perca a voz, 
Exultantes de alegria 
Ao saber que a cada dia 
O Salvador vem a nós!

Ano Novo é tomar a estrada 
Sem nunca andar sozinho 
Sabendo ler os sinais 
Que Deus pinta em Sua lida 
Na tela do universo 
feito a partir do nada.

Este riacho que canta,
Uma ave que chilreia,
Estrela-do-mar na areia, 
Os astros no infinito,
O vento que sopra forte
Ou sussurra em leve brisa,
O mar bravio ou em calma.

Um guaipeca dormindo
Na nossa porta de entrada,
O choro do pequenino,
A dor de quem agoniza,
O corpo fraco que morre,
A esperança que nos socorre,
O grito de nossa alma
Que anela por sua fonte
No anseio de ser nutrida,
São setas, trilhas, pontes...

O mundo da criação,
Sinfonia de beleza 
E, por permissão benfazeja,
Da Divina Perfeição,
Formidável chiaroscuro.
Essa escritura ilustrada
a ser bem interpretada
(Consultem os Testamentos
E a voz da Santa Igreja!)
É farol ao Porto Seguro...
...O berço do Senhor da Vida!

Haverá tesouros para entregar-Lhe
Ao fim da nossa jornada?

Ano Novo é espada, 
Bisturi, lâmina afiada 
- choro e sangue de inocentes - 
Dos soldados de Herodes, 
O falso adorador, 
Mentiroso e homicida 
Que finge prezar a Vida. 
Antanho invadiam casas, 
Hoje violam os ventres.

Ano Novo é caminhada, 
É fuga na madrugada, 
É evasão em segredo, 
Em silêncio, nem um ai!
Exílio em terras alheias. 
Infância, 
Na casa longe de casa. 
Confiar. Vencer o medo. 
Pátria aqui é sombra, arremedo. 
Aqui somos estrangeiros, 
Forasteiros, peregrinos. 
Outra é a nossa Pátria 
Outro é nosso destino. 
Nossa Casa é a do Pai.

Ano Novo é tempo santo. 
Estar pra Deus sempre pronto 
É amorosa obrigação 
Devida em cada momento. 
Ano Novo é louvação, 
É preceito e romaria, 
É perda, angústia, reencontro. 
É ocupar-se com o que é de Deus 
E guardar no coração 
O que escapa ao entendimento, 
Como fazia Maria.

Ano Novo é suor, cansaço, 
Trabalho de carpintaria 
E ganho em moeda parca. 
É fazer obra divina 
No anonimato, surdina, 
Sem vanglória e logomarca. 
(Quanto não valeria 
Uma mesa autografada 
Por São José, por Jesus; 
Um bordado em ponto cruz 
Das mãos da Virgem Maria?)

Ano Novo é Evangelho 
Ano Novo é precursão, 
É endireitar os caminhos, 
Arrependimento, conversão, 
Reparação, penitência, 
Batismo no rio Jordão...

Ano Novo é recolhimento, 
Deserto, ascese, oração. 
Vigiar, ficar desperto.
O sempre se faz agora! 
E aquele que é o Torto 
Se apresenta como o certo.

Pelas falsas riquezas do mundo, 
-- Que belo cheque-sem-fundo!-- 
Ou por um pedaço de pão, 
Há quem troque o Redentor
E jogue fora a Salvação.
E do Senhor não se sabe a hora.

Ano Novo é chamado, 
É humilde aprendizado. 
É festa, bodas, intercessão, 
É banquete aos convidados. 
Vistamos roupa de gala, 
Eis que o Cordeiro se imola 
E nós dá seu Corpo e Sangue 
E água do Seu costado 
Tanto é o amor à Sua Esposa!


Feliz Ano Novo 
De parábolas e sermões, 
Chicotes e expulsões, 
Ternura e acolhimento, 
Curas, conversões, 
Fé, incredulidade, 
Indiferença, discórdia, 
Covardias e traições, 
Amor e misericórdia. 
Bom trigo e, no meio, joio, 
Terra boa e pedregulho, 
Sementes, pássaros e abrolhos.

Quem tem ouvidos, entenda: 
A paz de Cristo é contenda, 
É combate, divisão. 
Não se espante o cristão 
Desse mundo de agruras, 
Cobiça, dor, amarguras, 
Tristezas e injustiças.

Do lavrador a missão 
De colono, desbravador, 
Não é encontrar a lavoura 
Já plantada, bem carpida, 
E a safra já colhida 
E recolhida ao celeiro, 
'que essa não é a sua vida.

Feliz Ano Novo 
De hosanas, calvário, paixão, 
Morte e ressurreição, 
'que não há felicidade sem dor 
E não há glória sem cruz...


Felicidade mesminha 
É só a felicidade eterna.
Feliz se é aqui na terra
Quando pela santidade 
Antecipa-se nesta vida
O contentamento infinito 
Do gozo da casa paterna.


Pois a escada da Cruz 
Começou lá com Adão. 
Escada que só descia, 
E sinal de maldição.

Do infinito Amor do Amor 
E, quem dizer poderia, 
Com o amoroso Sim 
Daquela santa guria 
Filha de Ana e Joaquim, 
Fez-se carne o Verbo, Jesus, 
Que com amoroso Sim
Completou o Sim de Maria: 
Da escada que só descia 
Inverteu a direção.

Do opróbrio fez Salvação. 
E a Cruz que Ele viveu, 
O Leito em que Ele morreu, 
Por sua Ressurreição 
Agora é escada pro Céu, 
Cidade Santa de Deus.

Santo Ano Novo!
Santo Natal!