terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Uma ceia e o Menino


Houvesse aqui mãos habilidosas
e gosto refinado,
Haveria pratos bem formados
e bem dispostos                                                                                       
E mesa enfeitada e bela,
Para dois, ou mais, e o Menino
Que da manjedoura olharia encantado,
sem nada comer, ’que idade pra isso Ele não tem,
Pois é neném.                                     

Mas não!
Então minha ceia é esse arroz de última hora,
com pimentão vermelho picado,
ameixa seca, um medalhão e ...uva passa.
Para beber, faltou-me o vinho e a companhia:
Beberei, pois, refrigerante na taça.

Ao paladar, não me queixo do sabor,
Mas, à evidência, ao conjunto carece
Beleza, requinte, graça, finesse.

’Inda  assim sou só contentamento...
Pois hoje vi a noite se fazer dia,
Páscoa e Natal num só momento,
A Eternidade entrando no tempo
ao contemplar o céu na terra na Sagrada Liturgia.

Depois do banquete - fui um dos tantos convidados,
que importância tem se é frugal essa outra refeição
quando se a faz para não quebrar o costume
e o espírito, que mais importa, já está saciado?

Mas fiz cara quase de queixume
-- talvez não conviesse perder o cacoete --
E olhei para o Menino como a pedir desculpa
Pelo meu prato simples e despojado
-- mesmo que Ele nada me pedisse pra comer,
Pois idade para isso Ele não tem:
É só um neném,
E sua Santa Mãe já O tem amamentado.

Com brilho indulgente no olhar,
e a mãozinha estendida,
Fez-me ver em pensamento que, nesta vida,
Há quem não tenha ceia de festa, almoço, desjejum sequer.

E há quem tenha farta mesa, e fontes, e adegas e alambiques
De onde a bebida,  abundante, verte,
E come, e bebe, e empanturra-se. E embriaga-se o insolente.
Mas nunca mata a fome, nem sacia a sede

Pois não desfruta do verdadeiro Banquete.