Era 1998. Sábado, já anoitecendo. Eu ia de São Leopoldo a Pelotas. No dia anterior, uma kombi pick-up, ao trocar de pista na av. João Correa, acertara a porta direita do meu Uno, fazendo com que a roda dianteira esquerda do meu carro desse algumas voltas atritando-se diretamente com o meio-fio.
Sem dar muita atenção ao sucedido, naquele sábado eu fazia o meu caminho rodando a cerca de 130 km/h. Fiz uma parada no Paradouro Grill para um café. Caía já a noite e começou uma chuva fina. Por conta disso, diminuí a velocidade. O que não impediu, próximo ao Posto Coqueiro, que meu carro desse um giro de quase 360 graus para a esquerda sobre a pista molhada e, saindo de ré à direita, descesse o barranco até a metade, onde ficou retido por um projeto de árvore.
Dei de mão na maleta do meu notebook e subi o barranco rapidamente, produzindo aí minha única escoriação: um pequeno corte no dedo por uma folha afiada de capim de alguma das touceiras em que me agarrei para escalar a ladeira mais rápido.
Depois que o resto da minha bagagem foi resgatada com a ajuda do sargento do posto de polícia local, de tratar com a polícia rodoviária federal, com a assistência da seguradora e avisar em casa, só me restava pernoitar no modesto e antigo hotel que havia junto ao posto - atualmente, há um hotel novo no local: o velho foi demolido.
Não obstante a vida moralmente confusa que eu levava, abri meu notebook para rezar uma oração que eu mantinha estampada na área de trabalho.
Não obstante a vida moralmente confusa que eu levava, abri meu notebook para rezar uma oração que eu mantinha estampada na área de trabalho.
Entre agradecimentos a Deus e porquês - por que comigo? por que agora? - a sensação de que Deus queria algo de mim. Era o segundo acidente automobilístico sério, fora outros evitados no limite, e eu estava vivo, com apenas um pequeno e simples corte num dedo. No primeiro, falecera meu pai a caminho dos sacramentos da confissão e da eucaristia, e eu, ainda criança, só tive um pequeno arranhão na testa e um botão do paletó arrancado.
Que queres de mim, meu Deus? Que queres de mim, meu Deus? Durante esses anos todos, na atrapalhação das minhas escolhas ou na paz de espírito, essa indagação assomou muitas vezes ao meu pensamento. Hoje, ao entrar em casa após retornar da Confissão, lembrei-me gratuitamente do episódio do acidente e da pergunta tantas vezes recorrente: Que queres de mim, meu Deus? Só então pareceu-me ouvi-lo: Te quero, meu filho!
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